sexta-feira, 23 de novembro de 2007

COMPORTAMENTO: Forno, Fogão e Fortuna

Equipamentos de Cozinha Estão Cada Vez Mais Sofisticados - Mas Há Opções Para Todos
(Cozinha dos sonhos: quase 150.000 reais em armários e equipamentos)
Bel Moherdaui
Fogão não é mais fogão - é cooktop. Exaustor fazendo aquele barulhão, nem pensar. Tem que ser coifa, de aço inoxidável e silenciosa como um gato de raça ronronando. A lava-louças vai buscar aquele restinho de molho lá no fundo e tem mais programs que um computador de gerações passadas. Até os armários andam diferentes: suas portas deslizam suavemente ou levantam como basculantes, os materiais são vidro, alumínio, aço. As novidades e matéria de equipamentos de cozinha não param de se acumular. Desde que "chamar os amigos para um jantarzinho" se tornou em alguns círculos um show de pirotecnia culinária protagonizado pelo dona da casa, as reuniões domésticas começam e terminam na cozinha. De preferência, numa "cozinha gourmet", o nome dado a um ligar onde fazer comida se transformou num hobby caro e sofisticado. para os consumidores comuns, a vantagem é que os equipamentos de ponta, aqueles que os fanáticos por culinária são os primeiros a ter, acabam se adaptando a orçamentos mais realistas e chegam ao mercado sob a forma de produtos melhores e mais modernos.
Quem não sonha com uma "cozinha de revista", daquelas que nunca parecem ter fumaça, gordura ou restos de comida? explorando esses desejos nada secretos, fogão, geladeira, armários, panelas e uma infinidade de utensílios seguem tendências caprichosas como as do mundo da moda e, nos casos extremos, custam pequenas fortunas. "No início do ano vendi minha Ferrari, que usava muito pouco por causa da violência urbana, e fiz uma troca de prezeres. Transferi o investimento para a minha cozinha", conta um advogado de São Paulo. Até agora, ele já gastou 45.000 dólares no projeto de sua nova cozinha, com assinatura do mesmo estúdio de desingresponsável pelos carros da Ferrari e equipamentos da alemã Gaggenau.

(O empresário Mellone faz jantares para até trinta amigos em casa)

Alguns aparelhos só faltam fazer a comida sozinhos. A coifa Master (cerca de 8.000 reais), da italiana Faber, uma das mais sofisticadas, vem com um detector de fumaça para o acionamento automático. Se o fumacê for muito, ele ainda aumenta a velocidade sozinha e regula a altura para ficar mais próxima da panela. O fogão da também italiana Ilve, em versões coloridas, vem com dois fornos independentes, espeto giratório, programador eletrônico e boca com tripla chama (cerca de 100.000 reais). A alternativa é um dos equipamentos mais desejados no momento, o fogão do tipo cooktop, aquele que só tem os queimadores e fica perfeitamente embutido. Pode ser a gás ou com o discretíssimo painel vitrocerâmico, aquecido com resistência elétrica. Goumet que é gourmet compra tudo isso, e não deixa ninguém mais encostar a mão. Por causa desse ciúme extremado, quem pode tem duas cozinhas em casa: uma para o gourmet, outra para a empregada doméstica (quem pode mais ainda tem tudo isso só para decorar bem o espaço e mal se aproxima do fogão). O publicitário Roberto Cipolla não chega a exageros possessivos, mas também não é totalmente democrático com seus utensílios. "O forno e o fogão minha empregada doméstica usa. Já minhas panelas italianas, não", diz ele, que tem tudo da alemã Gagneau. O empresário Eduardo Mellone tem loucura por seu multiprocessador alemão, um aparato que reúne centrífuga, liquitificador, máquina de fazer sorvete e até balança de precisão. Assíduo em aulas de culinária, ele reúne até trinta amigos para jantares especiais. Interessados em explorar esse mercado, os grandes fabricantes adaptam as tendências principais. Electrolux, Bosch e Brastemp têm linha inox, um furor coletivo que não dá sinais de ceder, com equipamentos de cozinha industrial. "Normalmente, o consumidor fica com o mesmo refrigerador por oito anos. Só troca quando está muito velho ou quando está velho ou quando vai mudar de casa. Mas nos úlçtimos anos surgiram muitas novidades e os equipamentos estão cada vez mais diferenciados, o que pode aumentar a vontade de trocar de aparelho", torce Fabiana Gaggetti, gerente de produtos da Electrolux. A empresa desenvolveu a linha Professional Series com fogões fabricados na Itália e até uma lava-louças com programas diferentes para lavagem de panelas, louça e remoção de sujeira pesada. A Brastemp lançou no fim do ano passado a linha Mosaic, dirigida para o consumidor sofisticado. Tem todos os ingredientes da cozinha moderna, da coifa ao cooktop, passando pelo forno de embutir, que ressurge com força total. Num patamar abaixo, ficam os equipamentos recobertos de inox. E por fim, a linha prata, que cria a impressão de um produto diferenciado, daqueles que todo mundo quer ter.

DELÍRIOS DE UM GOURMET: Equipamentos de Sonho dos Fanáticos Por Cozinha

- Fogão com seis queimadores, timer ou tripla chama = 10.000 reais

- Coifa italiana, com detector de fumaça e regulagem de altura automática = 8.000 reais

- Cooktop vitrocerâmico - 2.000 reais

- Geladeira modelo side-by-seide que faz gelo e água gelada = 11.500 reais

- Kit com cinco facas alemãs = 1.500 reais

- Cave para 110 garrafas de vinho, sem trepidação nem ruído = 6.500 reais

- Forno elétrico com timer e termostato = 5.000 reais

- Bateteira americana = 900 reais

- Liquidificador americano = 400 reais

- Lava-louças de inox com programa especial para remoção de molhos = 2.500 reais

- Panelas francesas de cerâmica = 300 reais cada uma.

Revista Veja 26 de Junho de 2002

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