terça-feira, 27 de novembro de 2007

COMPORTAMENTO 90'S: Bonitinha, mas desajustada

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Jennifer Jason Leigh Diz que Foge de "Papéis Caretas" e volta a Viver Uma Desequilibrada em "Georgia" - O conceito de filme caseiro nunca esteve tão bem representado como em "Georgia". Drama centrado na doentia fixação de uma jovem emocionalmente instável e profissionalmente incompetente por sua bem-sucedida e equilibrada irmã , uma cantora de folk, o filme só tomou forma a partir do empenho pessoal da atriz Jennifer Jason Leigh , que faz sua estréia como produtora. Intérprere de um punhado de personagens desajustados (e elogiados pela crítica), como a prostituta de "Noites violentas no Brooklyn" e a psicopata que acossa Bridget Fonda em "Mulher solteira procura", Jennifer saiu do conforto de seu stardom para levantar os US$ 10 milhões necessários para a produção de "Geórgia". Foi a forma que encontrou para viabilizar o roteiro escrito por sua mãe, Barbara Turner, elaborado a partir de idéias trocadas com ela.
"Fazer este filme foi uma experiência especial para mim, porque foi escrito por minha mãe, que é uma grande escritora e uma pessoa que amo muito", diz a atriz, de sua casa em Los Angeles.
Se, para Jennifer, interpretar é uma questão de feeling, produzir envolve fôlego e sangue frio.
"É muito difícil arranjar dinheiro para um projeto", explica a atriz. "Especialmente para uma pessoa como eu".
Atriz Contracena Com cadidata ao Oscar de Coadjuvante - Prêmio de melhor filme e atriz (Jennifer) no Festival de Montreal, e candidato ao Oscar de melhor atriz coadjuvente (Mare Winningham, atriz de "Wyatt Earp", de Lawrence Kasdan, cantora e compositora), "Georgia" se debruça sobre as dores de Sadie (Jennifer), cantora de talentos limitados, que divide seu tempo entre performances em bares sórdidos e coquetéis de drogas. Sadie tem como modelo inatingível a irmã, Georgia (Winingham), cantora de música regional que leva uma vida confortável, com casa e familia para cuidar. Filha mais nova do ator Vic Morrow (morto em acidente durante as filmagens de "No limite da realidade", produzido por Steven Spielberg) Jennifer afirma que "Georgia" não é calcado em experiências vividas em família.
"Nada há de biográfico no filme. Sequer lembro ou conheço algum caso de obsessão entre irmãs com o de 'Georgia'. Mas, de alguma forma, sinto que este projeto é muito pessoal", diz Jennifer. "Talvez porque ele fale sobre coisas próximas de mim".

Anti-heroína convicta, Jennifer Jason Leigh é uma cantora drogada e obcecada pela irmã no drama "Georgia"

A triz se refere ao fato de interpretar uma aspirante a Janis Joplin dos anos 90, que não consegue se livrar da dependência química. As drogas também já foram um problema na familia Morrow. A irmã mais velha de Jennifer, Carrie, era dependente em drogas peasadas e passou temporadas em clínicas de reabilitação. Foi Ciarrie quem ensinou a irmã atriz a interpretar corretamente a dependente química de "Rush - uma viagem ao inferno" de Lilli Fini Zanuck. Jennifer voltaria a usar a irmã como consultora para as sequências em que Sadie sofre os efeitos de fortes doses de heroína. Na opinão da atriz, seu personagem é fruto de uma relação fraterna mal resolvida. "Sadie realmente ama Georgia, mas é obcecada pelo talento da irmã, um dom que ela não tem", explica Jennifer.

Intérprete de adolescentes doidivanas ("Picardias estundantis", de Amy Hackerling), prostitutas desequilibradas ("Noites violentas no Brooklyn", de Uli Edel, e "O anjo assassino", de George Armitage), escritoras alcoólatars ("Dorothy Parker e o círculo vicioso", de Alan Rudolph) e repórteres destemidas ( "A roda da fortuna", dos irmãos Coen, um dos raros personagens 'caretas' de seu histórico) ou problemáticas ("Eclipse total"), com "Georgia" Jennifer engorda seu currículo de tipos desajustados.

Anti-heroína por excelência, a triz prefere se envolver com personagens outsiders, de comportamento excêntrico ou destinados a encarar o fundo do poço à disputar o título de "namoradinha da América" na industria cinematógráfica. O esforço em se manter longe dos papéis yuppeis tamém a afasta dos cachês milionários. Mas ela não se importa com isso. É o preço da marginalidade. "As garotas certinhas não me inspiram, profissionalmente", admite Jennifer.

Sadie é um desses tipos ao qual Jennifer se agrra com unhas, dentes e, desta vez, garganta. Uma sequência em particular chama a atenção: aquela em que o personagem canta, de modo angustiante e desesperado, "Take me back", de Van Morrison, ao vivo, diante de um ginásio lotado e em completo silêncio.

"Nunca havia cantado em público antes, e achei a experiência interessante", conta a triz. "Mas, não dá pra pensar em música em termos profissionais, gravar um disco. Não tenho voz para isso" (risos).

Aparência da Atriz Causou 'Frisson' no Festival de Cannes - A decadência física da personagem também impressiona. Maquiagem negra em torno dos olhos, tatuagens falsas espalhadas pelo corpo muito esquálido, Sadie é a sombra da degradação física e emocional. Recém-saída das filmagens, a aparência doentia da atriz suscitou comentários maldosos da imprensa internacional quando a estrela desfilou em Cannes ano passado, onde foi prestigiar a exibição de "Georgia" na mostra "Un certain regard". Ela jura que eram apenas resquícios de suas experiências dramáticas com Sadie. "É engraçado as pessoas lembrarem disso porque, basicamente, apenas me esforcei para perder o peso, o que é muito fácil para mim", acrescenta a triz. "O que eu fiz foi diminuir minha dieta de frutas e legumes". Humilde, Jennifer divide os louros conquistados por "Georgia" mundo afora com o profissionalismo da equipe. especialmente o do diretor Ulu Grosbard. Belga naturalizado americano, Grosbard vem do teatro e é autor de "Confissões verdadeiras" (1981), com o qual Robert De Niro e Robert Duvall dividiram o prêmio de interpretação no Festival de Veneza, e "Amor à primeira vista" (1985), que promoveu o encontro entre De Niro e Meryl Streep. "Sou uma grande fã do trabalho dele", diz Jennifer.

Carlos Heli de Almeida

Jornal O Globo

02 de Março de 1996

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