Anti-heroína convicta, Jennifer Jason Leigh é uma cantora drogada e obcecada pela irmã no drama "Georgia"
A triz se refere ao fato de interpretar uma aspirante a Janis Joplin dos anos 90, que não consegue se livrar da dependência química. As drogas também já foram um problema na familia Morrow. A irmã mais velha de Jennifer, Carrie, era dependente em drogas peasadas e passou temporadas em clínicas de reabilitação. Foi Ciarrie quem ensinou a irmã atriz a interpretar corretamente a dependente química de "Rush - uma viagem ao inferno" de Lilli Fini Zanuck. Jennifer voltaria a usar a irmã como consultora para as sequências em que Sadie sofre os efeitos de fortes doses de heroína. Na opinão da atriz, seu personagem é fruto de uma relação fraterna mal resolvida. "Sadie realmente ama Georgia, mas é obcecada pelo talento da irmã, um dom que ela não tem", explica Jennifer.
Intérprete de adolescentes doidivanas ("Picardias estundantis", de Amy Hackerling), prostitutas desequilibradas ("Noites violentas no Brooklyn", de Uli Edel, e "O anjo assassino", de George Armitage), escritoras alcoólatars ("Dorothy Parker e o círculo vicioso", de Alan Rudolph) e repórteres destemidas ( "A roda da fortuna", dos irmãos Coen, um dos raros personagens 'caretas' de seu histórico) ou problemáticas ("Eclipse total"), com "Georgia" Jennifer engorda seu currículo de tipos desajustados.
Anti-heroína por excelência, a triz prefere se envolver com personagens outsiders, de comportamento excêntrico ou destinados a encarar o fundo do poço à disputar o título de "namoradinha da América" na industria cinematógráfica. O esforço em se manter longe dos papéis yuppeis tamém a afasta dos cachês milionários. Mas ela não se importa com isso. É o preço da marginalidade. "As garotas certinhas não me inspiram, profissionalmente", admite Jennifer.
Sadie é um desses tipos ao qual Jennifer se agrra com unhas, dentes e, desta vez, garganta. Uma sequência em particular chama a atenção: aquela em que o personagem canta, de modo angustiante e desesperado, "Take me back", de Van Morrison, ao vivo, diante de um ginásio lotado e em completo silêncio.
"Nunca havia cantado em público antes, e achei a experiência interessante", conta a triz. "Mas, não dá pra pensar em música em termos profissionais, gravar um disco. Não tenho voz para isso" (risos).
Aparência da Atriz Causou 'Frisson' no Festival de Cannes - A decadência física da personagem também impressiona. Maquiagem negra em torno dos olhos, tatuagens falsas espalhadas pelo corpo muito esquálido, Sadie é a sombra da degradação física e emocional. Recém-saída das filmagens, a aparência doentia da atriz suscitou comentários maldosos da imprensa internacional quando a estrela desfilou em Cannes ano passado, onde foi prestigiar a exibição de "Georgia" na mostra "Un certain regard". Ela jura que eram apenas resquícios de suas experiências dramáticas com Sadie. "É engraçado as pessoas lembrarem disso porque, basicamente, apenas me esforcei para perder o peso, o que é muito fácil para mim", acrescenta a triz. "O que eu fiz foi diminuir minha dieta de frutas e legumes". Humilde, Jennifer divide os louros conquistados por "Georgia" mundo afora com o profissionalismo da equipe. especialmente o do diretor Ulu Grosbard. Belga naturalizado americano, Grosbard vem do teatro e é autor de "Confissões verdadeiras" (1981), com o qual Robert De Niro e Robert Duvall dividiram o prêmio de interpretação no Festival de Veneza, e "Amor à primeira vista" (1985), que promoveu o encontro entre De Niro e Meryl Streep. "Sou uma grande fã do trabalho dele", diz Jennifer.
Carlos Heli de Almeida
Jornal O Globo
02 de Março de 1996
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