domingo, 15 de junho de 2008
Dependência Qímica
Adolescência
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Dependência Química: Complicações
terça-feira, 3 de junho de 2008
Cocaina 80's
O Papa Leão XIII e o escritor Julio Verne foram duas entre muitas personalidades famosas que elogiaram o "Vinho Mariani", uma mistura de vinho e de folhas de coca lançada em 1865.
Nos Estados Unidos difundia-se a crença de que o uso da cocaína pelos negros lhes proporcionava poderes sobre-humanos. Há notícias de que agentes de polícia do sul daquele país usavam armas de grosso calibre para se proteger da suposta ameaça dos negros que usavam cocaína durante disturbios de rua. Esse temor das monorias, junto com o conhecimento cada vez maior sobre o abuso da cocaína, teria levado os governos de vários Estados a restringir o uso da droga. Foi assim que, em 1914, o Ato de Narcóticos Harrison proibiu, em todo o país, o uso da cocaína em remédios patenteados e tornou ilegal o seu uso para fins recreativos. Como resultado dessas medidas, a fabricação, distribuição e o uso da cocaína passaram a ser estreitamente controlados. Desde os anos 30 até o fim da década de 60, o abuso de cocaína tornou-se praticamente inexistente, a não ser entre pessoas do meio artístico.
O inventor norte-americano Thomas Edison também elogiou as qualidades do "Vinho Mariani". Em 1988 a Coca-Cola, que então continha cocaína, era anunciada como "a bebida que acaba com a exaustão".
Há várias explicações plausíveis para essa queda do uso da droga, além da sua proibição. Em 1932, foi sintetizada a anfetamina, um estimulante psicomotor poderoso com propriedades semelhantes às da cocaína, e parece que essa droga substituiu a cocaína, pois era barata e fácil de se conseguir com os médicos, como parte de um tratamento para emagrecer. Mas a utilidade da anfetamina no combate à obsidade era secundária e, além disso, efeitos adversos graves, como danos cerebrais, puderam ser associados ao seu uso. Restringiu-se o acesso à droga quando, finalmente, percebeu-se a extensão do seu abuso. Em 1972, o Foo and Drug Administration (FDA) colocou a produção e distribuição da anfetamina sob rígido controle. E, como uma droga potencialmente perigosa, passou a ser receitada pelos médicos com muito cuidado.
A COCAÍNA NOS ANOS 70
Enquanto os males da anfetamina eram divulgadaos, algumas pessoas afirmavam que a cocaína não tinha efeitos tóxicos significativos. Poucas mortes por overdose de cocaína foram confirmadas, e parecia que alguns usuários de cocaína chegaram a procurar auxílio médico ou tratamento. O resultado foi que muita gente chegou à conclusão equivocada de que a cocaína era uma droga segura. Um relatório da Comissão Nacional de Maconha e Abuso de Drogas, de 1973, afirmava que não se observou grande ônus social provocado pela cocaína nos Estados Unidos. Devido à publicidade negativa sobre a anfetamina, que foi abandonada imediatamente, e aos boatos de que a cocaína parecia não apresentar a toxidade da anfetamina apesar dos seus efeitos semelhantes, esta acabou sendo redescoberta como uma droga recreacional na década de 70. O potencial de abuso da cocaína, no entanto, havia sido predito por vários especialistas. Os médicos D.R. Wesson e D.E. Smith afirmaram: "se a droga fosse mais prontamente disponível a a um custo substancialmente mais baixo, ou se rituais socioculturais aprovassem e incentivassem uma dose média maior, poderiam se desenvolver exemplos de abuso mais destrutivos". No início da década de 70, o abuso da cocaína ainda não havia se tornado um problema significativo. O uso era quase exclusivamente por via intranasal; a incidência de dependêncisa crônica era baixa; e não havia confirmação de evidências de mortes por overdose. Desde então, a situação mudou de forma dramática.
UMA EPIDEMIA DOS ANOS 80
Dados da Pesquisa Nacional de Domicílios, patrocinada pelo National Institute on Drug Abuse, dos Estados Unidos, indicam que aqueles que experimentaram cocaína pelo menos uma vez passaram de 5,4 milhões em 1974 para 21,6 milhões em 1982 - um aumento de quatro vezes. Em 1977 havia, aproximadamente, 1,6 milhão de usuários regulares (definidos como pessoas que usavam cocaína pelo menos uma vez ao mês), que aumentaram para 4,3 milhões em 1979. este último número manteve-se constante até 1982. A procura de tratamento e a incidência de crises que exigem assistência médica relacionadas ao uso da cocaína também cresceram dramaticamente desde 1976. Os dados que refletem o crescimento das consequências maléficas relacionadas à cocaína são coletados pelo National Institute on Drug Abuse através do Drug Abuse Warning Network (DAWN). Este sistema utiliza informações fornecidas por hospitais e prontos-socorros. Os dados do DAWN indicam que a incidência de problemas médicos e mortes relacionados à cocaína triplicaram entre 1976 e 1981, e houve um aumento assustador nas ocorrências de prontos-socorros causadas pela cocaína no ano de 1983. Além disso, a combinação de cocaína com outras drogas é citada como a causa de mais de 60% dos casos de emergência envolvendo a cocaína. De acordo com os relatórios do DAWN, a combinação citada em segundo lugar era o "coquetel", ou "dinamite" (mistura de heroína e cocaína). Entre as drogas usadas em combinação com a cocaína há tranquilizantes, álcool e maconha. Pessoas com menos de 20 anos usam a maconha junto com a cocvaína com maior frequência. As inscrições em programas de tratamento para problemas causados pela cocaína aumentaram cinco vezes desde 1976. E essa tendência crescente pareceu continuar. Em 1983, 7,3% de todas as inscrições em clínicas de drogas eram devidos a problemas diretamente provocados pela cocaína, e esse número aumentou para 13,9% no primeiro semestre de 1984.
QUEM USA COCAÍNA? -
Os indivíduos que usam ou abusam da cocaína podem ser encontrados em todos so grupos raciais, geográficos e profissionais da sociedade, em qualquer parte do mundo. Um estudo de 1982 mostrou que os homens (28%) eram mais habituados ao uso da droga do que as mulheres (16,3%) na faixa etária de 18 a 44 anos, mas pesquisas indicaram que a diferença relativa ao sexo, dos consumidores está diminuindo. No passado, o uso da cocaína costumava ser associado a certos profissionais, como médicos, advogados, atletas e gente de teatro, cinema ou televisão. Seu alto custo transformava a cocaína no "champanhe das drogas", restrita a pessoas que dispunham de uma renda considerável. Com a maior divulgação da droga num passado mais recente, a maior parte dos usuários regulares de cocaína apresentava renda média acima de 25.000 dólares anuais, e muitos deles gastavam mais de 500 dólares por semana com cocaína. Em alguns casos extremos, indivíduos chegaram a gastar uma soma de 3.200 dólares numa única semana para manter a dependência da cocaína. Nem o status econômico nem a situação profissional parecem ser uma barreira considerável para o uso dessa droga nos dias atuais: 24,3% dos trabalhadores adultos empregados e 15,3% dos adultos desempregados usam cocaína nos Estados Unidos. Entre 1975 e o começo dos anos 80, o uso de cocaína também cresceu entre os estudantes secundaristas, mas essa tendência foi amenizada. No entanto, dado o fascínio associado à cocaína e a diminuição de seu preço, muitas pessoas temem que o uso da droga possa se tornar ainda maior entre os secundaristas.
PADRÕES DE USO - Muitos, se não a maioria, dos usuários de cocaína tomam a droga por finalidades sociais e recreativas. Normalmente ela é ingerida por via intranasal em festas onde as drogas, como o álcool e a maconha, também se fazem presentes. Um grupo menor de usuários consome a droga por razões mais específicas: diminuir o apetite, aumentar a energia, acabar com a monotonia e a depressão, melhorar a atividade e o desempenho normal de várias funções. A maneira como a cocaína é consumida mudou nos últimos quinze anos. Usava-se, anteriormente, a via de administração intranasal, e, em menor grau, a via intravenosa. Por volta de 1977 o freebasing com a cocaína entrou em cena, e um número crescente de usuários passou a preferí-lo. Mas o método de administração da droga predominante ainda é, de longe, a aspiração do pó. Entre os indivíduos que procuram tratamento para problemas causados pela cocaína, cerca de 16% fumam cocaína; 25% injetam a droga; e 57% aspiram o pó. Alguns estudos indicam que fumar cocaína ou tomá-la por via intravenosa leva ao uso compulsivo mais rapidamente. Isso não significa que aspirar cocaína não resultará em uso compulsivo, apenas fará esse caminho um pouco mais devagar. Há indicações conclusivas de que a grande maioria das pessoas que usam cocaína teve experiências prévias com outras drogas, principalmente com a maconha. Entre os indivíduos que usam cocaína, 98% também usaram maconha. E também a frequência do uso da maconha parece estar relacionada com a probabilidade de uso da cocaína. Quanto maior a frequência com que alguém consome maconha, mais propoenso estará a usar cocaína. Além disso, estes indivíduos consomem álcool e tabaco em quantidfade significativa. Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup indicam que as drogas mais frequentemente usadas em combinação com a cocaína são: álcool, maconha, tranquilizantes, opiátos e anfetaminas. Raramente o uso de drogas se restringe a um único tipo. A maior parte das pessoas que usa drogas psicoativas toma outras drogas, geralmente combinadas.
Tudo Sobre Drogas
Bruce Friedland
Editora Nova Cultural
1989