domingo, 15 de junho de 2008

Dependência Qímica

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE DO DEPENDENTE QUÍMICO - Infantilismo – Oralidade – fixação – regressão - Compulsão - Depressão
- Megalomania - Angústia - Baixa Auto-estima - Intolerância à espera na satisfação do desejo – Imediatismo - Invulnerabilidade – Imortalidade – Onipotência – grandiosidade - Desonestidade - Frustração - Imaturidade emocional - Tendência a minimizar - Negação - Dependência afetiva - Inadequação - Manipulação - Racionalização - Justificativa MECANISMOS DE DEFESA MAIS UTILIZADOS: - Racionalização/Justificativa O dependente químico racionaliza sua dependência em termos de uma ideologia de vida (ou morte, como preferirmos denominá-la), ou seja, assume um delírio diferente em conteúdos daqueles que conhecemos nas psicoses, mas que é igual em sua estrutura. Na construção de um delírio se faz necessário: não responder ao juízo de realidade nem à prova de experiência e o sujeito vive de acordo com isso, suicidando-se a curto ou a longo prazo de acordo com tal ideologia delirante. O dependente químico não consegue entrar em contato com seus sentimentos. Justifica os momentos de excesso, como conseqüência de problemas que os outros vem causando. Deturpa a realidade. Acredita que o hábito está ligado ao momento atual de vida.
- Negação A negação é o maior obstáculo a ser superado, quando diante do problema da drogadicção. A negação aparece no usuário, na família, entre os amigos e até mesmo no ambiente de trabalho. Todos se negam a ver o problema quando este surge e inventam desculpas para o comportamento anti-social que a pessoa passa a apresentar. Só quando superada a negação, é que se torna possível atuar de forma eficaz sobre o problema do abuso de drogas. O dependente químico admite saber seu limite de consumo e de que pode parar quando quiser, colocando os prejuízos num futuro muito distante, que não o atingirá. Tendência a minimizar o uso. CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE: - Infantilismo/Imaturidade Emocional O dependente químico precisa da droga de acordo com o seu desejo, pois ela é possuidora de um poder mágico de suprir todas as necessidades, projeta na droga a imagem idealizada. Para Freud as origens da toxicomania devem ser procuradas na fase oral do desenvolvimento libidinal (fixação oral), daí a intolerância a espera na satisfação do desejo. Por alguma razão, o desenvolvimento emocional do dependente químico estaciona na época em que fez uso pela primeira vez. Apesar dos anos passarem, das pessoas envelhecerem e do mundo girar, o dependente químico sempre continua naquele estado emocional infantil, egoísta, em busca de prazer e reclamando do mundo e de todos esperando apenas a morte e cheio de sonhos irreais, que o levam cada vez mais para longe da realidade. - Compulsão O que caracteriza um dependente químico é a compulsão, ou seja, o intenso desejo de usar a substância. O dependente químico tem muita dificuldade de controlar o consumo e, com isso, há um aumento na tolerância (aumento das doses para obter efeitos antes produzidos por doses menores). O comportamento compulsivo-obsessivo é uma característica muito importante da doença, pois o dependente químico torna-se compulsivo por tudo aquilo que lhe dá prazer. Seja sexo, cigarro, comida, dor, Internet, jogo, etc. O dependente químico substitui a reflexão pela ação compulsiva. - Depressão Alterações do cérebro, em decorrência de danos causados pelo químico, podem determinar quadros de depressão. O mecanismo da drogadicção se encontra na encruzilhada entre a impotência e a depressão, de onde se origina um comportamento impulsivo de ingestão de dada substância, enquantodroga eleita”. O dependente químico é intolerante ao sofrimento, a dor. O uso de drogas produz um alto nível de auto-estima, mas como não é uma conquista real e sim imaginária, quando passa o efeito a depressão que vem possui características cada vez mais devastadoras para o ego. - Megalomania Como o dependente químico vive num mundo irreal, distorcido, seus projetos costumam ser grandiosos e tal como seu mundo, completamente irreal. Modificar a realidade requer tempo, esforço e muitas outras condições. Fazê-lo na fantasia é fácil, imediato e só requer esforços insignificantes. O dependente químico é incapaz de esperar ou projetar concretamente uma realização no futuro. - Angústia Um dos efeitos da droga é o de diminuir, em certas pessoas, os estados de angústia ou depressão, enquanto que em outras intensifica-os perigosamente. A droga tem a finalidade de eliminar a angústia da frustração. - Baixa Auto-Estima O dependente químico tem uma necessidade inesgotável de amor e aprovação, é hipersensível a críticas e lhe falta confiança em si mesmo. Possui uma dependência afetiva exacerbada. - Frustração Não consegue aceitar sem conflitos fatos, situações ou comportamentos que estejam fora das próprias expectativas ou desejo. Não consegue lidar com o NÃO, ou com resultados inesperados. - Imediatismo O dependente químico quer a satisfação imediata do desejo, está sempre sob um sentimento de urgência. - Onipotência O dependente químico se considera invulnerável e imortal. Vive a fantasia grandiosa de vencer a finitude. - Desonestidade O dependente químico mente no trabalho, em casa e com amigos. Dá desculpas para não fazer o que precisa, ou fazer o que sabe que não deve. A mentira é um dos primeiros prejuízos relacionais provocados pela droga. Muitas vezes o dependente químico rouba os familiares para obter a droga. Perda gradativa dos valores éticos e morais. - Inadequação Dificuldade de relacionamento social e familiar; com isso passa a um isolamento e a um mal-estar vivenciado na relação com as pessoas. O dependente químico possui falta de ambição, de controle e de competição. - Manipulação Esta é a grande arte e habilidade do dependente químico, que tem como objetivo defender o químico. Formas utilizadas de manipulação: racionalização, desfocalização, culpabiliza terceiros, negação, minimização, rigidez mental, pressões e ameaças.
Clínica Jorge Jaber
Autor (a) Desconhecido (a)
Data Desconhecida

Adolescência

O Adolescente Como Protagonista e aAgente de Transformação: O Projeto de Vida Em Questão
Resumo
A adolescência é período fundamental do processo de crescimento e desenvolvimento do ser humano, sendo decisiva não só para o desempenho do jovem, como também para o do adulto. Muitas e muitas vezes, ouve-se que o futuro depende do jovem, mas, frequentemente não é acrescentado ter o adulto a responsabilidade pelo presente.Educar, então, passa a ter como objetivo a criação de espaços para que o adolescente se torne protagonista, existindo a necessidade de proteção que favoreça a concretização do sonho através da realização do projeto de vida.
Introdução
A adolescência, por vezes, usada como sinônimo de juventude, é sempre referida como a fase de transição entre a infância e a adultícia, podendo esta idéia de transitoriedade conferir-lhe, erroneamente, uma importância menor.Na realidade, este período da vida se reveste de maior importância dentro do processo do crescimento do ser humano, sendo decisivo não só para para o desempenho do jovem como posteriromente para aquele adulto. As vivências da adolescência são muito ligadas a cada cultura. Assim, a cultura age sobre seus adolescentes e estes a ela reagem, sendo moldados para propostas de compromisso ou descompromisso, realização ou frustração, confiança ou desconfiança, construção ou destruição, sob a égide de modelos vazios, de desemprego e violência ou de modelos adequados que se vinculam à sustentação de projetos de vida e de realização pessoal ou coletiva.O adolescente de hoje é colocado, ou melhor dizendo, é atirado dentro de múltiplas inserções culturais, que se lhe dão direitos, também os submetem à cobrança e à exigencia de inúmeros deveres. Assim, os adolescentes podem ser seres que buscam sem achar realmente o que procuram. São referidos como criaturas maravilhosas, sonhadoras, donas do futuro, rótulos emprestados por uma sociedade que, ao mesmo tempo, os percebe como pessoas irresponsáveis, imaturas, promíscuas, erotizadas, vítimas, segundo alguns agresssoras, na opinião de outras. Pergunta-se a todo momento que tipo de jovem se quer formar num país com as características do Brasil. Talvez já haja aí um primeiro questionamento, pois há muitos brasis a serem pensados e repensados.Gostar-se-ia, no mais das vezes, que o jovem fosse competetnte, perceptivo, ganhasse autonomia, tornando-se real protagonista de fatos, situações, favorecedoras para este país, tanto no presente como no futuro.Na relação adulto/adolescente, ou quem dera educador/educando, o adolescente é o ator principal do seu desenvolvimento e isso deve ficar claro para o adulto, sem que haja perda de qualidade no seu interesse em ajudá-lo a se construir. Há que se acreditar em seus vínculos com a ação, a liberdade, a responsabilidade, o compromisso e a capacidade de realização de seus sonhos. Educar então, passa a conter como perspectiva fundamental a criação de espaços para o desenvolvimento, existindo a necessidade de proteção e prevenção de agravos.Isso envolve um compromisso ético para o incremento de propostas baseadas no protagonismo da juventude, o que exige do adulto/educador uma clara vontade política, pois através de sua tutela deverá ocorrer a construção da cidadania dos jovens, entendida como o exercício de sua participação democrática, nos mais variados níveis de atuação.Deve ser lembrado que os adolescentes e os jovens são um contingente chave para qualquer processo de transformação social.Esta situação se torna muito mais clara num país como o Brasil, que conta com aproximadamente 36 milhões de adolescentes, sendo, portanto, extremamente relevante para os destinos desta nação o que este agrupamento pensa, sende e faz acontecer.Infelizmente, muitos adultos permanecem com um conceito esteriotipado sobre os adolescentes: não confiam neles; sentem-se inseguros e pouco a vontade com eles; não conseguem colocar o próprio discurso em prática, ou seja, não consideram o adolescente como protagonista, capaz até mesmo de liderar. É necessário que se acredite mais nos adolescentes, na sua qualidade, dignidade neste momento tão singular e turbulento da história. Somente à partir desta crença surgirão espaços reais para seu crescimento.Não se pode, porém, resvalar para o paternalismo, igualmente inadequado e que esconde, por vezes, a descrenças na capacidade do outro de conduzir-se por si mesmo, podendo realizar qualquer coisa por seus próprios meios. Claro está que também existem adolescentes marginais, drogados, criminosos, elementos perigosos para a sociedade, com condutas anti-sociais, muitos deles irrecuperáveis. Faz-se necessário o julgamento criterioso, a colocação de limites e até de punição. Casso isso não ocorra, a sociedade se omitiu novamente ou procurou jogar a culpa somente do meio ambiente desfavorável, esquecendo-se que outros jovens, nas mesmas condições adversas, não ingressaram no crime, nas drogas, na violência. É preciso ter-se definitivamente presente que os adolescentes são cidadãos capazes ou podem, frequentemente, ser resgatados para sê-lo. O processo educativo e participativo que deve envolver o adolescente enfatiza a autonomia por meio das vivências, reflexões, compromissos e responsabilidades, sustentados pela liberdade de escolha. É relevante que se destaque nesta fase o trabalho em equipe - adolescentes aprenderam a conviver com as diferenças, mas mesmo assim não podem deixar de identificar o objetivo comum, na realização das tarefas. Há debates que se formam em torno da auto-estima, dar e receber, de valores, cidadania, direitos humanos, deveres, saúde, educação, sexualidade, drogas, violência cultura. Começa a delinear-se atitude crítica frente a leitura, meios de comunicação, músicas, políticas, consumo e etc. Associar-se a seus pares e também aos adultos em projetos voluntários que envolvem o outro propiciam o desenvolvimento da sensibilidade, ca´pacidade de escolha na tomada de decisões o que, em última instância, conduz a percepção de si mesmo com fortalecimento da cidadania. Dentro de qualquer contexto, da família a sociedade como um todo, a inclusão de adolescentes na resolução de problemas contribui para a organização e fortalecimento desta sociedade. DEsta maneira prepara-se a proposta futura,. artriculando-se no hoje o amadurecimento da sociedade de amanhã, lembrando que o adolescente é e sempre será o grande fator de transformação social. Relevante ter-se presente que o adulto pode ajudar, atrapalhar ou até sufocar o processo ou o projeto adolescente. Muitos adultos (inclusive pais) tentaram fazer dos adolescentes sua própria continuação, tentando realizar neles seus projetos e sonhos, destruindo assim a oportunidade de vê-los acontecer dentro de sua singular maneira de ser. estereótipos podem também contribuir para a distorção da imagem das propostas dos adolescentes, vistos como rebeldes, vazios, arrogantes, "aborrecentes". Aristóteles na Antiga Grécia já os descrevia como "apaixonados, irascíveis, capazes de arrebatar e serem arrebatados por seus impulsos". Segundo Kiel (1964), "se o jovem comete uma falta, é sempre do lado do excesso, do exagero, uma vez que eles levam todas as coisas longe demais". A análise deste e de outros pensamentos deve ser cuidadosa até deixar em aberto a pressuposição de um estilo adolescente que pode ser definido como "um vir a ser", uma etapa de preparação que poderá conter potencialmente realização e sucesso. Segundo Françoise Dolto, "se a dependência do adolescente se prolonga é destruidora e pode terminar por aniquilar o jovem"; "seria importante que os adolescentes fossem encarragados pela sociedade de exprimir-se, pois isso os ajudaria em sua dificil evolução". Ao invés disto, segundo essa autora, "os adolescentes se transformaram numa classe de tanto serem rejeitados pela sociedade. A imagem pública atual dos adolescentes não os favorece, pois muitos especialistas insistem em apresentá-los só como mais suicidas (Garland & Zigler); tendo mais depressão; gravidezes não planejadas; usam mais violência, tem mortes mais violentas do que qualquer outro grupo na história da humanidade. Não é, portanto, surpresa que a visão do público sobre adolescência seja hostil. O que não está sendo levado em conta (e também não está sendo perguntado a estes mesmos especialistas) é porque isto acontece e se há justificativa nos preconceitos contra os adolescentes. É sabido que a raiz do preconceito se origina do fato de se projetar no outro aquilo que se tem medo ou não se aceita em si mesmo. É importante descobrir que tipo de sentimento a adolescência provoca no adulto. Seria medo? Seria inveja? Seria amizade, apoio ou o quê? Ser jovem é ter futuro pela frente que pode até ser brilhante. O adulto corre o risco de olhar para trás e não ter se realizado, não ter contribuído, tendo perdido para sempre a oportunidade de fazê-lo. na verdade, deve-0se exortar os jovens a se manterem intocados pelas frustrações dos que percorreram a estrada sem sucesso. Eles não devem resvalar frente aos modelos frustrantes da não realização, que podem estar presentes nos adultos. A sociedade, frequentemente, protege mais os adultos do que os adolescentes.
- Há que ser honesto e adolescente.
- Pode-se ser irresponsável e adulto.
- Há que se ter clara a verdade e ser adolescente.
- Pode-se ter várias verdades ou mentiras confortáveis e ser-se adulto.
- Há que ser forte frente a adversidade e adolescência.
- Pode-se ser fraco, corrupto usando a adversidade para sucesso próprio e ser-se adulto.
Centro Gaia

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Dependência Química: Complicações

O Conceio de Comorbidade
A palavra comorbidade foi criada por Feintein (1970) para referir-se a "qualquer entidade clínica distinta adicional que tenha ocorrido ou venha a ocorrer durante a evoçlução de um paciente cuja doença index esteaj sob estudo". O termo comorbidade deve ser utilizado apenas para descrever a coexistência de transtornos ou doenças (do latim: morbus), e não de sintomas. "Morbidade" refere-se ao fato de estar doente e os sintomas indicam a existência da doença. Os sintomas podem existir ou ser características associadas, mas só as doenças podem ser comórbidas. Kaplan e Feinstein (1974) classificaram a comorbidade em três tipos:
1)- Comorbidade Patogênica = Quando determinada doença leva a outras complicações ou doenças com as quais está etiologicamente relacionada. Ex: o desenvolvimento de abuso de álcool devido ao uso repetido para aliviar a disforia.
2)- Comorbidade Diagnóstica = Quando as manifestações da doença associada simulam as da doença index, podendo incluir sintomas, sinais ou resultados de exames complementares. Ex: um paciente psiquiátrico pode apresentar dificuldade de concentração provocada por depressão ou por transtorno de ansiedade generalizada simultâneos.
3)- Comorbidade Prognóstica = Quando houver doenças que predispõem o paciente a desenvolver outras doenças. Ex: o risco maior de alcoolismo em um paciente que tenha transtorno de pânico mais depressão.
Comorbidade e Classificação: As classificações atualmente utilizadas (CID-10 e DSM-IV) baseiam-se no modelo médico que adota o paradigma neokraepeliniano. Empregado na pesquisa e nosologia psiquiátricas a partir de 1970. Defende a existência de transtornos mentais múltiplos e distintos, e utiliza critérios operacionais para fornecer diagnósticos de natureza categorial. Muitas das inovações introduzidas no DSM-III (APA, 1980), no DSM-III-R (APA, 1987) e, no DSM-IV (APA, 1994), resultaram numa maior probabilidade de ocorrência de comorbidade. Isto se deve a diversas razões:
- Maior Cobertura Diagnóstica: Um maior número de categorias antes inexistentes, maior a probabilidade de um paciente preencher os critérios para um diagnóstico e tornar-se "caso", assim como apresentar comorbidade.
- Fragmentação dos Diagnósticos: A divisão de categorias mais abrangentes em vários transtornos separados. O DSM -IN descreve 12 tipos de transtorno de ansiedade, 10 de transtornos de humor e 11 de personalidade. Categorias muito restritas cuja associação entre si reflita apenas a fargmentação excessiva a que foram submetidas.
- Eliminação de Hierarquias Diagnósticas:
Incentiva os diagnósticos múltiplos: Ex: depressão não exclui pânico, esquizofrenia não exclui fobia social.
Sistema Multiaxial:
Eixo I: Síndrome clínica
Eixo II: Transtorno de personalidade.
- Utilização de Entrevistas Semi-Estruturadas: Os DSMs promovem uma "varredura" em praticamente todas as áreas da psicopatologia. Enquanto a entrevista clínica privilegia a síndrome de apresentação mais proeminente, aumenta o número de diagnósticos e a chance de comorbidades.
- Sobreposição de Critérios: Dois ou mais transtornos terem critérios comuns aumenta a chance de comorbidade. A validade discriminativa deve ser privilegiada.
- Limitar Para Determinar a Presença de Critério: Ou do número de critérios para se preencher um diagnóstico.
DSM-IV - critérios mais rigorosos: transtorno de pânico;
DSM-IV - critérios menos rigorosos: depressão maior, abuso da substância, transtornos de personalidade.
- Modelo Categorial x Dimensional: O modelo categorial aumenta o número de comorbidades. Uma vez retirados grupos homogêneos (Transtorno de Pãnico) do campo mais abrangente (Transtorno de Ansiedade), restam categorias limítrofes e residuais de difícil classificação (ansiedade generaliada, ansiedade não especificada), que são tomadas como reais e adquirem o status de um novo tratamento.
- Tempo Avaliado no Estudo: Estudos de corte transversal (prevalência no ponto) tendem a obter menos comorbidade do que estudos longitudinais que consideram períodos variáveis, que vão de semanas a toda a vida (lifetime prevalence).
Comorbidades Psiquiátricas em Pacientes com Dependência de Álcool e Outras Drogas
Efeitos Negativos:
* Uso frequente e de pequenas doses pode levar a consequências mais sérias que as vistas na população sem comorbidade;
* Hostilidade, ansiedade, depressão e alucinações, abandono das medicações;
* Emergência psiquiátrica e internação;
* Maior tempo no hospital;
* Taxas de detenção por atos ilegais;
* Falta de moradia;
* Impacto financeiro.
Epidemiologia:
* Prevalências de 0,5% à 75%.
As variações dependem da amostra investigada, dos tipos de estudos, dos métodos de avaliação, das definições adotadas, características sócio-demográficas e da disponibilidade de substâncias psicoativas na comunidade.
População Heterogênea:
* Sub-Tipos:
- combinações entre os transtornos mentais e as substâncias psicoativas utilizadas;
- idade de início do transtorno;
- gravidade do quatro;
- duração do uso da substância e do transtorno mental.
Incidência Aumentando?:
- disponibilidade de substâncias psicoativas;
- desinstitucionalização;
- priorização de cuidados de saúde na comunidade.
Diagnóstico:
* Dificuldades:
- diagnóstico primário X induzidos;
- sintomas comuns ou inespecíficos;
- critérios diagnósticos utilizados: CID-10 e DSM-IV;
- método de detecção do uso de substâncias - questionários com objetivos específicos como triagem, acompanhamento clínico, diagnóstico, complicações clínicas não psiquiátricas, dados de prontuário, entrevistas familiares e análise de amostras de urina.
* Diagnóstico Adequado:
- o objetivo principal é facilitar a abordagem terapêutica e estratégia de prevenção de recaída.
1)- História familiar e questões específicas sobre possíveis disturbios psiquiátricos. As informações devem ser colhidas junto ao paciente e também a familiares e amigos.
2)- Exames laboratoriais, incluindo alterações típicas de consumo crônico de álcool, alterações metabólicas e hormonais, doenças infecto-contagiosas, exames neurológicos e detecção de drogas na urina. A escolha e seleção dos exames devem levar em consideração a história do indivíduo e o perfil de consumo de substâncias psicoativas.
3)- Questionários ou testes direcionados, gerais ou específicos.
4)- Testes psicológicos. O mais utilizado é o Inventário de Beck para depressão. Outros testes específicos serão utilizados de acordo com a necesidade de diagnóstico diferencial.
5)- Observação clínica. Uma vez que o diagnóstico diferencial pode ser dificultado dureante o período de consumo da substância psicoativa, é de grande valia a observação durante o período de desintoxicação. A persistência ou não de sintomas psiquiátricos após este período pode facilitar o correto diagnóstico.
6)- Conhecimento adequado e aplicação dos critérios diagnósticos da CID-10 e do DSM-IV, para detecção das principais comorbidades associadas à dependência química.
* Tratamento:
- organização de serviços:
() - Psiquiatria Geral x Dependência Química;
() - Necessidade de abordagem integrada: usar estratégias de manejo biopsicossocial;
() - Sinergismo: melhorando o quadro psiquiátrico em conjunto com o abuso de substâncias psicoativas: redução de risco de recaídas e melhor qualidade de vida;
() - Tratamento sequêncial (iniciando pelo quadro mais agudo) ou paralelo (dois diferentes settings) parecem ser menos eficazes.
Como estratégias de manejo biopsicossocial, temos que considerar:
# A combinação específica da comorbidade e o estágio de motivação ao escolher o melhor método de tratamento;
# O uso de farmacopéia para o tratamento do transtorno psiquiátrico, desintoxicação e fase inicial de recuperação e prevenção de recaída.
# O uso de técnicas psico ssociais para aumentar a motivação, auxiliar na resolução de problemas ambientais e no manejo de situações difícieis.
# O fornecimento de apoio familiar e informação sobre tratamento adicional de apoio.
# Apoio psiquiátrico para o controle de sintomas psicóticos, mania e depressivos com ou sem risco de suicídio.
Diagnósticos Psiquiátricos Adicionais Mais Comuns Entre pacientes Usuários de Substâncias Psicoativas:
Eixo I
* Distúrbios de Humor: Depressão Maior, Distimia e Transtorno Bipolar I.
* Distúrbios da Ansiedade: Fobia Simples, Fobia Social, Pânico, Transtorno Obsessivo-compulsivo e Transtorno de Ansiedade Generalizada.
* Distúrbios Alimentares: Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa.
* TDAH: Esquizofrenia e outrso transtornos psicóticos.
Eixo II
Em homens - anti-social, paranóide, borderline, evitativo.
Em mulheres - anti-social, borderline, evitativo, dependente e histriônico.
Fobia Social
* Critérios Diagnósticos Para Fobia Social:
A)- Medo ou temor acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, onde o indivíduo é exposto a pessoas estranhas ou a possível escrutínio por outras pessoas. O indivíduo teme agir de um modo (ou mostrar sintomas de ansiedade) humilhante e embaraçoso para si próprio.
B)- A exposição à situação social temida, quase que invariavelmente provoca ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto por situação.
C)- A pessoa reconhece que este medo é excessivo ou irracional.
D)- As situações sociais e de desempenho temidas são evitadas ou suportadas com intensa ansiedade e sofrimento.
E)- A esquiva, antecipação ansiosa ou sofrimento na situação social ou de desempenho temida interferem significativamente na rotina, funcionamento ocupacional (acadêmico), atividades sociais ou relacionamentos do indivíduo, ou existe sofrimento acentuado por ter a fobia.
F)- Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração mínima é de seis meses.
G)- O temor ou esquiva não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral, nem é melhor explicado por outro transtorno mental.
* Caso Clínico:
Engenheiro, 40 anos, solteiro. Foi uma criança retraída, timida e inibida. Sempre teve dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Ir a uma festa gerava um desconforto tão intenso que era descrito pelo paciente como "uma estratégia". Trabalhar também era difícil, já que o simples contato diário com os colegas desencadeava sintomas ansiosos - o coração acelerava, ficava com as mãos frias e suadas. Nas reuniões com a chefia praticamente não falava; sentia-se todo o tempo como o centro das atenções apesar de ficar quieto e isolado. O constrangimento era enorme. Começou a consumir álcool aos 22 anos; no início para desinibir e conseguir se aproximar das mulheres. Com o tempo passou a beber diariamente antes de ir para o trabalho, para diminuir a ansiedade. Devido ao abuso do álcool, foi demitido da empresa após 08 anos de serviço. Em outros dois empregos foi demitido após discutir com o chefe, incentivando pelo álcool. Iniciou tratamento com clonazepam para fobia social até 04mg/dia, com melhora moderada da fobia social após um ano de tratamento. Não voltou a abusar do álcool após iniciar o tratamento.
*Relacionamento Possíveis:
1 - A Fobia Social pode "causar" o abuso de álcool devido à automedicação.
2 - A Fobia Social pode "causar" o abuso de álcool através de outro mecanismo além da automedicação. A Fobia Social pode ser um dentre vários fatores causais.
3 - Tanto a Fobia Social quanto o abuso de álcool podem ser causados por algum terceiro fator subjacente e não terem nenhum relacionamento direto entre si.
4 - A Fobia Social pode aumentar a gravidade do abuso de álcool e, portanto, levar a um aumento da procura de tratamento, sem ter nenhum papel na etiologia do abuso de álcool.
5 - A Fobia Social e o abuso de álcool podem coexistir por coincidência, sem terem nenhum relacionamento.
6 - A Fobia Social pode ser um efeito tóxico do uso ou da abstinência do álcool, devendo resolver rapidamente com o fim da abstinência.
* Teoria da Automedicação:
- Propõe que o portador de um quadro de ansiedade descobre, por experiência própria, que o álcool é capaz de suprimir ou reduzir os sintomas que o incomodam.
- Esta solução, eficiente a princípio, torna-se mal-adaptativa à medida que se desenvolve tolerância e surgem os sintomas de abstinência. Por fim, a síndrome de dependência ao álcool complica e agrava a Fobia Social.
Depressão Maior
* Critérios Para Episódio Depressivo Maior:
A)- Cinco (ou mais)dos seguintes sintomas estiverem presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança no funcionamento anterior. Pelo menos, um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer.
1 - Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação por outros (por ex., parece prestes a chorar).
2 - Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros).
3 - Perda ou ganho significativo de peso quando não está realizando dieta (por ex., uma mudança de mais de 5% do peso corporal em 01 mês).
4 - Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
5 - Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias.
6 - fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7 - Sensação de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser delirante) quase todos os dias (não meramente auto-reprovação ou culpa por estar doente).
8 - Capacidade diminuída para pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observado por outros).
9 - Pensamentos recorrentes sobre morte (não apenas o medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou uma tentativa de suicídio ou um plano específico para cometê-lo.
B)- Os sintomas não são melhor explicados por Luto, isto é, após a perda de alguém amado, persistem por mais de 02 meses ou são caracterizados por acentuado comprometimento funcional, preocupação mórbida com inutilidade, ideção suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.
Transtorno de Personalidade Borderline
* Critérios Diagnósticos para Transtorno de Personalidade Borderline:
Um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:
1 - Esfoprços frenéticos para evitar o abandono real ou imaginãrio.
2 - Um padrão de relacionamentos ionterpessoais instáveis e intensos, caracterizados por extremos de idealização e desvalorização.
3 - Perturbação da identidade: isntabilidade acentuada e persistência d auto-imagem ou do senso de self.
4 - Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais a própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias psicoativas, direção imprudente, comer compulsivamente.
5 - Comportamento, gestos ou ameaças suicidas recorrentes ou comportamento automutilante.
6 - Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex., intensa disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade, geralmente durando algumas horas e, apenas raramente mais de alguns dias).
7 - Sentimentos crônicos de vazio.
8 - Raiva inadequada e intensa ou dificuldade para controlar raiva (por ex., demonstrações frequentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes).
9 - Ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos.
Transtorno de Personalidade Anti-Social
* Critérios Diagnósticos para Transtorno de Personalidade Anti-Social: Um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, ocorrendo desde os 15 anos, como indicado por três (ou mais) dos seguintes critérios:
1 - Fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, como indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo para detenção.
2 - Propenso a enganar, como indicado por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros, para obter vantagens pessoais ou prazer.
3 - Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
4 - Irritabilidade ou agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
5 - Drresponsável pela segurança própria ou alheia.
6 - Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras.
7 - Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltradado ou roubado de outra pessoa.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Cocaina 80's

O QUE É COCAINA? - Poucas drogas têm recebido tanta atenção do público quanto a cocaina e suas variáveis. Revistas, programas de televisão e documentários realizados por gente famosa, como o oceanógrafo Jacques Costeau, entre tantos, falaram muito dela nos últimos anos. A cocaía contudo, não é uma droga nova; já era usada pelos índios da América do Sul muito antes da chegada dos conquistadores espanhóis. Há evidências arqueológicas de que os indios dos Andes peruanos utilizam à base de cocaína há mais de três mil anos. O tipo de cocaína usada hoje em dia, entretanto, só foi refinado em 1850, e suas propriedades estimulantes chegaram a ser muito apreciadas no século passado.O mito acerca da cocaína e seus efeitos é amplo e fantasioso; com exceção do trabalho do psicanalista Sigmund Freud, realizado a partir de 1880, suas propriedades farmacológicas e efeitos não foram estudados sistematicamente até 1970. Embora hoje conheça-se muito sobre a cocaina, as concepções errôneas ainda prevalecem, como a crença de que a droga é relativamente inofensiva. A cocaina é um alcalóide (substância química que contém nitrogênio, carbono, oxigênio e hidrogênio, extraído das plantas) branco e cristalino, derivado da Erythroxylon Coca, planta que cresce abundantemente nos Andes. A droga é extraida da planta em duas fases.
- Primeira Fase - as folhas são colocadas em uma prensa junto com ácido sulfúrico, querosene ou gasolina e comprimidas até formar uma massa, ou pasta, que contém até 90% de sulfato de cocaína.
- Segunda Fase - para remover as impurezas remanescentes, esta pasta é tratada com o ácido hidroclórico como solvente e produz o cloridrato de cocaina, branco e cristalino. O cloridrato de cocaína pode ser introduzido no organismo por aspiração, ingestão ou injeção. Apenas a cocaína pura costuma ser usada como fumo; nesse caso, ela deve ser submetida a um tratamento conhecido como "freebasing". Para isso, mistura-se o cloridrato de cocaína com bicarbonato de sódio ou água e hidróxido de amônia. A cocaína, considerada como uma base, é então separada da água por meio de um solvente volátil, como éter. A base de cocaína, ao contrário do cloridrato de cocaína, não é solúvel em água, e pode ser então usada como fumo.
Devido ao seu alto preço, considera-se a cocaina uma droga da elite. Em meados da década de 80, uma grama custava entre 50 e 120 dólares, e essa quantidade pode ser consumida em uma única noite por uma ou duas pessoa. O preço exorbitante, no entanto, favoreceu a associação entre o uso e pessoas fascinantes e ricas, e essa imagem foi, pelo menos em parte, responsável pelo aumento da popularidade da droga durante a década de 70, especialmente após 1976. Apesar do preço, a cocaína encontra-se presente em todas as camadas econômicas da sociedade. Embora o número de pessoas que usam cocaína pela primeira vez tenha se estabilizado, a crescente disponibilidade da droga contribuiu para o aumento da frequência e da quantidade consumida por pessoa. Como resultado, mais pessoas enfrentam problemas relacionados com a cocaína e procuram tratamento para se livrar da droga.
COMO A COCAÍNA É CONSUMIDA? - Apesar de muita gente acreditar o contrário, a cocaína é imediatamente absorvida pela corrente sanguinea quando ingerida por via oral. Os índios pré-colombianos que viviam na região andina mascavam as folhas de coca e até hoje esse é o principal modo de uso de cocaina nessa região. Um dos principais motivos que levavam os índios a usar a droga foi o fato de ela ajudar a vencer a sensação de cansaço e de fome. Como os efeitos da droga não são duradouros - de uma a duas horas, quando mascada -, os índios mantinham as folhas mastigadas dentro da boca, de modo que ao longo do dia fossem liberadas baixas concentrações de cocaina. Quando se mastigam as folhas, a cocaína é absorvida através das membranas da boca; se forem engolidas, a absorção faz-se no estômago e nos intestinos. Os índios peruanos misturam as folhas de coca com cal ou cinzas para facilitar a absorção da droga. Fora dos países produtores, a cocaína é mais frequentemente usada na forma de pó, que é absorvido pelas membranas mucosas da boca, pelos canais nasais e pelo trato gastrintestinal. O que explica a preferência pelo pó é a dificuldade para se contrabandear grandes quantidades de folhas de coca através de fronteiras. Consequentemente, é o cloridrato de cocaína, extraído das folhas de coca, que constitui problema fora dos países andinos, para onde é transportado e vendido ilegalmente. Para elevar os lucros, o cloridrato de cocaína costuma ser diluído ou adulterado com açúcares, anfetaminas ou anestésicos, produtos mais baratos e acessíveis nas regiões onde a droga será consumida. Assim, a cocaína vendida aos usuários tem uma pureza de apenas 12 a 75% e expõe o consumidor a outras substâncias, desconhecidas e potencialmente perigosas.
No final do século XIX, a cocaína às vezes era ingerida oralmente, após ser dissolvida em elixires e vinhos. Essas soluções eram anunciadas como drogas milagrosas capazes de curar todos os males, reduzir a fadiga e melhorar a disposição. Embora a cocaína possa provocar seus efeitos característicos quando ingerida em solução, eles são relativamente menos intensos que os efeitos provocados quando consumida de outras maneiras.
1)- A Via Intranasal - Atualmente a "cafungada", ou via intranasal, é o meio mais
difundido de consumir cocaína. Normalmente os usuários compram cocaína em pó, que é a forma mais comum do cloridrato. O pó é dividido em carreiras para facilitar a inalação; o usuário aspira-o através de um tubo. Poucos segundos após a aspiração, a pessoa experimenta uma sensação de adormecimento do nariz e depois uma "friagem", que dura aproximadamente cinco minutos. Ocorre então uma crescente sensação de alegria, euforia e energia. o "vôo" alcança seu ponto máximo em dez a vinte minutos e termina quase completamente em uma hora. Os efeitos estimulantes duram de vinte a quarenta minutos. Na tentativa de manter o "vôo", muitos usuários voltam a cheirar em intervalos regulares (a cada trinta minutos por exemplo), até que a droga se acabe.
2)- Via Intravenosa - Os usuários tidos como mais experientes ou de maior frequência administram a droga por via intravenosa. A dose normal costuma ser de 10 mg. Embora muitos dos efeitos fisiológicos e subjetivos da droga sejam os mesmos que os produzidos por ingestão intranasal, ao injetar a droga os usuários podem experimentar um "baque" (aceleração) intenso em apenas um ou dois minutos. Esse "baque" dissipa-se depois de trinta minutos, e os usuários frequentemente repetem a experiência injetando-se mais droga. Demonstrou-se experimentalmente e por meio de depoimentos de usuários que a via intravenosa exige uma dose menor em relação à via intranasal. Por outro lado, os usuários por via intravenosa ficam mais propensos a uma nova injeção para restaurar os efeitos. Em consequência, tendem a intensificar o uso até que eles próprios, ou o seu suprimento da droga, se esgotem. 3)- Cocaína Como Fumo - O hábito de fumar pasta de coca é comum no Peru, Equador, Colômbia e Bolívia, países em que esta forma da droga encontra-se amplamente disponível; aí, a prática de fumar pasta de coca transformou-se em verdadeira epidemia entre os adolescentes, principalmente do sexo masculino. Como é comum fumar compulsivamente, isso implica no consumo de grandes quantidades de droga. Os usuários peruanos, por exemplo, às vezes chegam a fumar 60g de pasta de coca de uma única vez. A pasta seca, que contém de 40 a 90% de sulfato de cocaína, é misturada num cigarro de tabaco ou de Cannabis Sativa (maconha). A euforia e o estímulo do Sistema Nervoso Central (SNC) são quase imediatos, por causa da rápida absorção da cocaína inalada nos pulmões. Entretanto, os efeitos agradáveis são relativamente passageiros e, mesmo que a concentração da droga no sangue permaneça alta, os fumantes de cocaína tornam-se ansiosos, irritáveis e deprimidos em poucos minutos. Para evitar essa reação indesejável, eles às vezes continuam a fumar pasta de coca por várias horas, embora dificilmente retornam à euforia inicial. A permanência do hábito de fumar cocaína pode trazer alucinações e comportamento psicótico. Além disso, muitas das impurezas da pasta de cocaína, como o querosene, podem ter seus próprios efeitos tóxicos. Até a pouco tempo atrás, o uso da pasta de cocaína - conhecida no Peru como PBC, iniciais de pasta básica de coca - não se tornou muito difundido fora dos países produtores de folhas de coca. Mas isso pode mudar, porque a pasta, que requer apenas um processamento rudimentar, é mais barata que o cloridrato de cocaína. Por outro lado, a venda da pasta de cocaína é certamente, muito menos lucratica para os traficantes, pois normalmente o cloridrato de cocaína apresenta-se adulterado, o que aumenta o lucro dos traficantes - é muito mais difícil fazer o mesmo com a pasta básica de coca. A pasta também é mais volumosa e, portanto, mais difícil de transportar.
O processo de freebasing, outra maneira de fumar cocaína, está se tornando cada vez mais conhecido (final da década de 80 para 90), principalmente nos Estados Unidos. O cloridrato de cocaína é convertido para uma forma que serve para ser fumada utilizando-se o processo químico já descrito. Fuma-se o freebasing em um narguilé, espécie de cachimbo d'água, da mesma forma como alguns usuários fumam maconha ou haxixe. Apenas 05 a 06 % da droga passam através do tubo do cachimbo, porque a maior parte da cocaína perde-se pela condensação e pela fumaça que escapa. Daí a necessidade de usar grandes quantidades de cocaína no processo de freebasing. Uma única inalação requer aproximadamente 100 mg, e os usuários às vezes consomem até 30 g ou mais num período de 24 horas. Fumar essa mistura é a forma mais cara de consumo de cocaína(década de 80 para 90). Por que, então, o freebasing tornou-se tão popular nos Estados Unidos nesta época? A principal razão alegada é que, da mesma forma que o processo intravenoso, este método produz uma excitação intensa. O processo de freebasing proporcionaria sensações subjetivas de vigor e prazer mais acentuados que qualquer outro método de administração. E também provoca um maior desejo por outra dose de cocaína do que a administração intravenosa. Mas o processo de freebasing é, também, a forma mais perigosa de abuso da cocaína. Vários estudos mostraram que o freebasing danifica os pulmões e desencadear sérios problemas de saúde, como a queima não prevista dos solventes inflamáveis usados no processo de extração da droga, que podem, eventualmente, provocar exploções com resultados fatais. O USO DA COCAÍNA: HISTÓRIA, EXEMPLOS, TENDÊNCIAS
Jarro de 1.500 anos de idade, que mostra um rosto com as bochechas cehias de folhas de coca, revela que o hábito de mascar estas folhas já existia entre a população indígena que habitava as montanhas andinas.
Muito antes da descoberta do processo da extração da cocaína, os índios do Peru e de outros países sul-americanos já mascavam as folhas da coca. Como não há registros históricos dessa prática, o conhecimento acerca do assunto nesse período deves-e a fontes arqueológicas. Os desenhos que ilustram peças de cerâmica encontradas em várias localidades situadas no noroeste da América do Sul fornecem evidências de que o hábito de mascar folhas de coca já fazia parte da cultura indígena antes da ascensão do império Inca, talvez já nos idos de 3.000 a.C., e que os efeitos da coca sobre a disposição e o comportamento eram apreciados pelos indios. A planta de coca era tida como um presente dos deuses e usada em rituais religiosos, funerais ou em certas ocasiões específicas. Um exemplo: como não existiam cavalos entre os incas, o único meio de comunicação entre as regiões do império eram os mensageiros. Eles corriam por longas distâncias nas montanhas andinas, onde até andar é difícil, devido a redução de oxigênio consequente da altitude. Os mensageiros, no entanto, conseguiam atravessar essas distâncias rapidamente, mesmo sem comida e água, mascando as folhas de coca. Quando os espanhóis chegaram, no século XVI, o império inca encontrava-se em declínio. Nessa época, a coca já não era mais usada apenas pela classe dominante ou associada aos rituais. Embora ainda ocupasse um lugar importante nas manifestações religiosas e culturais, há evidências de que muitas pessoas consumiam coca no dia-a-dia. Num primeiro momento, os espanhóis tentaram proibir os índios de mascar coca porque acreditavam que ela seria uma barreira para a conversão dos nativos ao cristianismo. Logo, entretanto, perceberam que poderiam forçar os silvícolas, já então escravizados, trabalhar arduamente nas minas de ouro e prata se permitissem o uso da coca, apesar das condições adversas proporcionadas pela altitude. Tornou-se, então, uma prática corrente pagar o trabalho dos índios com folhas de coca. Os espanhóis cultivaram a planta e, ao contrário da época do império inca, o consumo diário de folhas tornou-se muito frequente entre os índios. As folhas de coca foram levadas para a Europa pelos exploradores no século XVI, na mesma época em que outras substâncias psicoativas naturais, como o café, o chá e o tabaco, começavam a ser consumidas naquele continente. Mas, ao contrário destas substâncias, as folhas a coca não conseguiram popularidade até o século XIX. Isso deve-se, certamente, à sua deterioração durante o transporte. As condições dos porões dos navios durante as longas viagens, com muito calor e umidade, aniquilavam as qualidades do produto. Consequentemente, os efeitos das folhas de coca importadas eram reduzidos e não despertavam maior interesse.
A Sintese da Cocaína
Em 1885, o químico Gaedecke extraiu um resíduo oleoso das folhas de coca, e com isso produziu uma substância cristalina à qual deu o nome de "eritroxilina". Sete anos depois, Albert Neimann, assistente de Friedrich Wohler, o "pai da química orgânica", extraiu dessa substância a cocaína refinada. Apesar de já se conhecer a estrutura química da cocaína desde o fim do século XIX, somente em 1955 ela pôde ser comprovada. A incerteza acerca da estrutura química da droga sintetizada, porém, não impediu o seu consumo. O uso - e o abuso - da cocaína alastrou-se rapidamente depois que Niemann conseguiu efetuar o seu refino, e a pesquisa sobre os efeitos da droga, tanto em animais como em seres humanos, começou a ser incrementada. Em 1883, por exemplo, Theodor Aschenbrandt, um cirurgião do exército, escreveu exaustivamente sobre a utilidade da cocaína para acabar com o cansaço nas batalhas e fazer com que soldados feridos lutassem. Seu trabalho chamou a atenção de Sigmund Freud, então jovem neurologista vienense, que se dedicou ao assunto. Até bem pouco tempo atrás, a mais completa descrição dos efeitos psicológicos e fisiológicos da cocaína encontrava-se na obra de Freud, mais precisamente no "Uber Coca". Freud também fez experiências minuciosas acerca dos efeitos da cocaína na energia muscular, do seu tempo de reação e de sua influência na disposição psicológica.
Em 1862, Albert Nieman extraiu um alcalóide da coca, que denominou "cocaína". Logo apósa descoberta, iniciaram-se pesquisas detalhadas sobre os efeitos da droga e sua possível aplicação na medicina. Como resultado de suas pesquisas, Freud chegou a acreditar que a cocaína era uma droga miraculosa, capaz de curar vários males e de tornar mais agradável a vida normal. Em "Uber Coca", Freud sugeria o uso da cocaína para uma infinidade de propósitos terapêuticos, como:
= aumentar a capacidade física de uma pessoa durante períodos estressantes (isto é, em situações de guerra, em jornadas prolongadas, ao escalar uma montanha);
= restaurar a habilidade mental prejudicada pela fadiga;
= melhorar as "debilidades psíquicas", como a melancolia (termo antigo para "depressão").
Freud também recomendava a cocaína para distúrbios estomacais, mesmo aqueles que eram o simples resultado de uma refeição muito pesada, assim como para a asma e doenças supostamente causadas pela degeneração dos tecidos. As doenças que Freud e vários oputros médicos proeminentes do século XIX acreditavam poder ser curadas pela cocaína compõem uma lista realmente impressionante, o que provavelmente contribuiu para difundir a crença de que a cocaína podia curar tudo, até mesmo a sífilis. Mas a pretenção mais incrível, promovida pelo próprio Freud, era de que a cocaína poderia servir de cura para a dependência da morfina e do álcool. Para fazer tal afirmação, Freud baseou-se em informações obtidas, em grande parte, em relatórios publicados em jornais médicos. Folhetos promocionais de empresas farmacêuticas americanas divulgavam que "na cocaína temos um remédio cuja ação fisiológica e efeitos terapêuticos, conforme foi relatado por competentes observadores, não deixam dúvidas de sua grande eficácia no tratamento do alcoolismo, de sua ação específica no alívio para as vítimas do hábito do ópio". Freud também parecia convicto disso, e chegou afirmar que "o tratamento para a depoendência de morfina com coca, portanto, não resulta simplesmente na substituição de um tipo de dependência por outra; não transforma o dependente em morfina num coquero".
Freud (esquerda) receitou cocaína para combater a dependência em morfina de Ernst von Fleischl-Marxow (direita). O paciente, porém, tornou-se dependente de ambas as drogas e morreu intoxicado por morfina.
Os propalados benefícios da cocaína motivaram o surgimento, na Europa e nos Estados Unidos, de uma grande variedade de preparados à base de coca, inclusive tônicos e remedios patenteados. Um dos mais famosos era um vinho com coca comercializado com o nome de "Vinho Mariani", cujos anuncios citavam depoimentos de autoridades e gente famosa, como Júlio Verne e Thomas Edson, falando das qualidades do vinho. A Coca-Cola era outra bebida que continha cocaína. Era anunciada pela propaganda como "o tônico do cérebro e a bebida da efervescência intelectual". Embora a cafeína tenha substituído a cocaína da Coca-Cola, até hoje a bebida é aromatizada com folhas de coca descocainizadas.
Nas duas últimas décadas do século XIX, a cocaína desfrutava de boa reputação, mas na virada do século seu potencial de abuso começou a ser notado. Um dos casos mais trágicos foi o que ocorreu com um grande amigo de Freud, Ernst von Fleischl-Marxow, que era dependente de morfina. Depois que Freud o tratou com cocaína, Fleischl-Marxow mergulhou nesta droga rapidamente e começou a usá-la em demasia. Um ano mais tarde, ele estava tomando tanta cocaina que ficou com psicose tóxica e, mais tarde, veio a falecer. Embora o próprio Freud continuasse a usar a cocaína por muitos anos, ele e outros colegas, depois disso, passaram a escrever sobre os horrores da droga. Um cientista daquela época afirmou que a cocaína era "o terceiro flagelo da humanidade" (depois do álcool e do ópio).

O Papa Leão XIII e o escritor Julio Verne foram duas entre muitas personalidades famosas que elogiaram o "Vinho Mariani", uma mistura de vinho e de folhas de coca lançada em 1865.

Nos Estados Unidos difundia-se a crença de que o uso da cocaína pelos negros lhes proporcionava poderes sobre-humanos. Há notícias de que agentes de polícia do sul daquele país usavam armas de grosso calibre para se proteger da suposta ameaça dos negros que usavam cocaína durante disturbios de rua. Esse temor das monorias, junto com o conhecimento cada vez maior sobre o abuso da cocaína, teria levado os governos de vários Estados a restringir o uso da droga. Foi assim que, em 1914, o Ato de Narcóticos Harrison proibiu, em todo o país, o uso da cocaína em remédios patenteados e tornou ilegal o seu uso para fins recreativos. Como resultado dessas medidas, a fabricação, distribuição e o uso da cocaína passaram a ser estreitamente controlados. Desde os anos 30 até o fim da década de 60, o abuso de cocaína tornou-se praticamente inexistente, a não ser entre pessoas do meio artístico.

O inventor norte-americano Thomas Edison também elogiou as qualidades do "Vinho Mariani". Em 1988 a Coca-Cola, que então continha cocaína, era anunciada como "a bebida que acaba com a exaustão".

Há várias explicações plausíveis para essa queda do uso da droga, além da sua proibição. Em 1932, foi sintetizada a anfetamina, um estimulante psicomotor poderoso com propriedades semelhantes às da cocaína, e parece que essa droga substituiu a cocaína, pois era barata e fácil de se conseguir com os médicos, como parte de um tratamento para emagrecer. Mas a utilidade da anfetamina no combate à obsidade era secundária e, além disso, efeitos adversos graves, como danos cerebrais, puderam ser associados ao seu uso. Restringiu-se o acesso à droga quando, finalmente, percebeu-se a extensão do seu abuso. Em 1972, o Foo and Drug Administration (FDA) colocou a produção e distribuição da anfetamina sob rígido controle. E, como uma droga potencialmente perigosa, passou a ser receitada pelos médicos com muito cuidado.

A COCAÍNA NOS ANOS 70

Enquanto os males da anfetamina eram divulgadaos, algumas pessoas afirmavam que a cocaína não tinha efeitos tóxicos significativos. Poucas mortes por overdose de cocaína foram confirmadas, e parecia que alguns usuários de cocaína chegaram a procurar auxílio médico ou tratamento. O resultado foi que muita gente chegou à conclusão equivocada de que a cocaína era uma droga segura. Um relatório da Comissão Nacional de Maconha e Abuso de Drogas, de 1973, afirmava que não se observou grande ônus social provocado pela cocaína nos Estados Unidos. Devido à publicidade negativa sobre a anfetamina, que foi abandonada imediatamente, e aos boatos de que a cocaína parecia não apresentar a toxidade da anfetamina apesar dos seus efeitos semelhantes, esta acabou sendo redescoberta como uma droga recreacional na década de 70. O potencial de abuso da cocaína, no entanto, havia sido predito por vários especialistas. Os médicos D.R. Wesson e D.E. Smith afirmaram: "se a droga fosse mais prontamente disponível a a um custo substancialmente mais baixo, ou se rituais socioculturais aprovassem e incentivassem uma dose média maior, poderiam se desenvolver exemplos de abuso mais destrutivos". No início da década de 70, o abuso da cocaína ainda não havia se tornado um problema significativo. O uso era quase exclusivamente por via intranasal; a incidência de dependêncisa crônica era baixa; e não havia confirmação de evidências de mortes por overdose. Desde então, a situação mudou de forma dramática.

UMA EPIDEMIA DOS ANOS 80

Dados da Pesquisa Nacional de Domicílios, patrocinada pelo National Institute on Drug Abuse, dos Estados Unidos, indicam que aqueles que experimentaram cocaína pelo menos uma vez passaram de 5,4 milhões em 1974 para 21,6 milhões em 1982 - um aumento de quatro vezes. Em 1977 havia, aproximadamente, 1,6 milhão de usuários regulares (definidos como pessoas que usavam cocaína pelo menos uma vez ao mês), que aumentaram para 4,3 milhões em 1979. este último número manteve-se constante até 1982. A procura de tratamento e a incidência de crises que exigem assistência médica relacionadas ao uso da cocaína também cresceram dramaticamente desde 1976. Os dados que refletem o crescimento das consequências maléficas relacionadas à cocaína são coletados pelo National Institute on Drug Abuse através do Drug Abuse Warning Network (DAWN). Este sistema utiliza informações fornecidas por hospitais e prontos-socorros. Os dados do DAWN indicam que a incidência de problemas médicos e mortes relacionados à cocaína triplicaram entre 1976 e 1981, e houve um aumento assustador nas ocorrências de prontos-socorros causadas pela cocaína no ano de 1983. Além disso, a combinação de cocaína com outras drogas é citada como a causa de mais de 60% dos casos de emergência envolvendo a cocaína. De acordo com os relatórios do DAWN, a combinação citada em segundo lugar era o "coquetel", ou "dinamite" (mistura de heroína e cocaína). Entre as drogas usadas em combinação com a cocaínatranquilizantes, álcool e maconha. Pessoas com menos de 20 anos usam a maconha junto com a cocvaína com maior frequência. As inscrições em programas de tratamento para problemas causados pela cocaína aumentaram cinco vezes desde 1976. E essa tendência crescente pareceu continuar. Em 1983, 7,3% de todas as inscrições em clínicas de drogas eram devidos a problemas diretamente provocados pela cocaína, e esse número aumentou para 13,9% no primeiro semestre de 1984.

QUEM USA COCAÍNA? -

Os indivíduos que usam ou abusam da cocaína podem ser encontrados em todos so grupos raciais, geográficos e profissionais da sociedade, em qualquer parte do mundo. Um estudo de 1982 mostrou que os homens (28%) eram mais habituados ao uso da droga do que as mulheres (16,3%) na faixa etária de 18 a 44 anos, mas pesquisas indicaram que a diferença relativa ao sexo, dos consumidores está diminuindo. No passado, o uso da cocaína costumava ser associado a certos profissionais, como médicos, advogados, atletas e gente de teatro, cinema ou televisão. Seu alto custo transformava a cocaína no "champanhe das drogas", restrita a pessoas que dispunham de uma renda considerável. Com a maior divulgação da droga num passado mais recente, a maior parte dos usuários regulares de cocaína apresentava renda média acima de 25.000 dólares anuais, e muitos deles gastavam mais de 500 dólares por semana com cocaína. Em alguns casos extremos, indivíduos chegaram a gastar uma soma de 3.200 dólares numa única semana para manter a dependência da cocaína. Nem o status econômico nem a situação profissional parecem ser uma barreira considerável para o uso dessa droga nos dias atuais: 24,3% dos trabalhadores adultos empregados e 15,3% dos adultos desempregados usam cocaína nos Estados Unidos. Entre 1975 e o começo dos anos 80, o uso de cocaína também cresceu entre os estudantes secundaristas, mas essa tendência foi amenizada. No entanto, dado o fascínio associado à cocaína e a diminuição de seu preço, muitas pessoas temem que o uso da droga possa se tornar ainda maior entre os secundaristas.

PADRÕES DE USO - Muitos, se não a maioria, dos usuários de cocaína tomam a droga por finalidades sociais e recreativas. Normalmente ela é ingerida por via intranasal em festas onde as drogas, como o álcool e a maconha, também se fazem presentes. Um grupo menor de usuários consome a droga por razões mais específicas: diminuir o apetite, aumentar a energia, acabar com a monotonia e a depressão, melhorar a atividade e o desempenho normal de várias funções. A maneira como a cocaína é consumida mudou nos últimos quinze anos. Usava-se, anteriormente, a via de administração intranasal, e, em menor grau, a via intravenosa. Por volta de 1977 o freebasing com a cocaína entrou em cena, e um número crescente de usuários passou a preferí-lo. Mas o método de administração da droga predominante ainda é, de longe, a aspiração do pó. Entre os indivíduos que procuram tratamento para problemas causados pela cocaína, cerca de 16% fumam cocaína; 25% injetam a droga; e 57% aspiram o pó. Alguns estudos indicam que fumar cocaína ou tomá-la por via intravenosa leva ao uso compulsivo mais rapidamente. Isso não significa que aspirar cocaína não resultará em uso compulsivo, apenas fará esse caminho um pouco mais devagar. Há indicações conclusivas de que a grande maioria das pessoas que usam cocaína teve experiências prévias com outras drogas, principalmente com a maconha. Entre os indivíduos que usam cocaína, 98% também usaram maconha. E também a frequência do uso da maconha parece estar relacionada com a probabilidade de uso da cocaína. Quanto maior a frequência com que alguém consome maconha, mais propoenso estará a usar cocaína. Além disso, estes indivíduos consomem álcool e tabaco em quantidfade significativa. Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup indicam que as drogas mais frequentemente usadas em combinação com a cocaína são: álcool, maconha, tranquilizantes, opiátos e anfetaminas. Raramente o uso de drogas se restringe a um único tipo. A maior parte das pessoas que usa drogas psicoativas toma outras drogas, geralmente combinadas.

Tudo Sobre Drogas

Bruce Friedland

Editora Nova Cultural

1989