domingo, 25 de novembro de 2007

CINEMA 90'S/COMPORTAMENTOS DE RISCO - Viúva de Pá Virada

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Courtney Love esquece a culpa pelo suicídio do marido e faz sucesso com uma drogada que é a sua cara.
Os inúmeros desafetos de Courtney Love, entre eles muitos inconformados fãs do conjunto Nirvana, que a culpam pelo suicídio do marido, o cantor e compositor Kurt Cobain, adoram chamá-la de prostituta e drogada. Gente maldosa aposta que ela vai acabar pegando AIDS e morrendo. Corajosa, a cantora do grupo Hole topou a barra de viver no cinema uma personagem que é tudo o que a acusam de ser. Em "O Povo Contra Larry Flynt", Courtney vive Althea. Ela é a problemática mulher do personagem-título, o editor da resvista pronográfica Hustler, vivido por Woody Harrelson, que, por sinal, concorre ao Oscar de melhor ator pelo papel.
Embora barrada na luta pela estatueta, a cantora vem colecionando elogios de crítica e público por este que é seu primeiro grande papel no cinema. Antes, Courtney fez uma rápida aparição no alopradíssimo cult-faroeste "Straight to Hell" de Alex Cox, e viveu uma jovem punk em "Sid & Nancy", do mesmo diretor, sobre outro casal-problema do rock, o baixista Sid Vicius, dos Sex Pistols, e sua namorada Nancy Spungen. A boa recepção a sua performance em "O Povo Contra Larry Flynt" - pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática - não deve afastá-la da música, porém.
Com dois álbuns lançados, a banda continua, como Courtney frisa em entrevista: "Ninguém está me obrigando a escolher entre representar ou cantar".
"Existe Censura Nos Estados Unidos e Ela é Baseada na Hipocrisia, Que Impõem Barreiras a Certos Temas".
O Dia - O presidente tcheco Vaclav comentou que você ficou perfeita como esposa de Larry Lynt.
Courtney Love - Incrível, não? Eu fiquei emicionada e espantada com toda a coisa. Afinal, ele é um dos grandes líderes mundiais. E, ao mesmo tempo, um cara muito legal. Me senti muito honrada.
O Dia - Como foi fazer o filme? Courtney Love - A reação das pessoas me fez sentir como uma colegial que acabou de tirar um dez, quando achava que ia passar raspando com seis (risos). De repente os adultos da indústria de cinema passaram a me tratar bem, sacou (risos)? Comparado com a turma do rock, no cinema tem muita gente madura. Não tem aquele clima punk do meio musical, mas é legal.
O Dia - A comunidade musical está te dando força? Courtney Love - Não. Muitos dos meus amigos colocam o trabalho de ator lá embaixo. Ao ponto de acharem que repetir palavras de outros não é um lance visceral. Como atriz encontrei a mesma paixão que encontro na música, até mais refinada. Revendo o filme, há momentos onde consegui ser realmente honesta, o mesmo sentimento que tenho quando faço um bom show de rock.
O Dia - Qual foi o momento mais difícil nas filmagens? Courtney Love - Morrer é dureza. Mas a equipe do filme deu o maior apoio. na base de chegar e falar "estamos supertristes que você morra nesta cena", coiss assim. Eu vivi a cena de uma forma muito fisica. Tive de ficar sob toda aquela água, com os olhos abertos, prendendo o fôlego. A coisa me machucou. E a roupa de Woody ficava sempre molhada. Foi pauleira. O outro momento difícil foi o primeiro dia de trabalho. Eu esbarrava direto nos microfones, errava as marcações, saia fora da luz. E a equipe ria das falas do Woody. Achei que todo mundo ia me odiar
O Dia - O que lhe atrai mais como artista: música ou filmes? Courtney Love - Creio que não são coisas que se oponham. Valorizo ampos por diferentes razões. Um pelo refinamento. Ser ator não é um processo solitário. É um trabalho de equipe; aquele bando de gente trabalhando duro na frente e por trás das câmeras, capturando aquele momento. E na música, também existe essa coisa de equipe, mas a relação é mais fluida.
O Dia - O que vai comunicar de diferente neste novo disco? Courtney Love - Neste exato momento, estou trabalhando no novo album. E sinto que limpei a barra. Que não preciso provar nada a ninguém. Não preciso do comportamento pessoal enraivecido que eu tinha. Não sei o que se passou, mas me sinto mais calma. Agora, quando escrevo minhas canções, posso ir mais objetivamente ao assunto e passar aquilo que quero dizer sobre as coisas com as quais estou lidando. Sinto que vejo as coisas mais claramente agora.
O Dia - O tema do filme é a liberdade de expressão e o poder destruitivo das drogas. Como isso toca a você e a seu público? Courtney Love - Não vejo nhuma mensagem específica sobre as drogas no filme. Nem qualquer mensagem feminista, o que é uma pena, pois tento colocar isso em tudo o que faço, assim como Woody faz no que se refere à maconha (risos). O filme fala da Primeira Emenda da Constituição, um assunto que enche o saco da minha geração, que no entanto sempre viveu sob sua proteção. Quando fui com Milos Formam (o diretor do file) à Praga entendi muita coisa. Esse homem tão gentil, que evitou passar qualquer rancor no filme, nasceu sob domínio nazista. Ele cresceu nu regime totalitário. Em Praga, conheci gente que foi encarcerada por fazer desenhos infantis que irritaram as autoridades. E eu fico louca só porque colocam um adesivo no meu disco, advertindo os pais sobre as letras.
O Dia - Existe censura nos Estados Unidos? Courtney Love - Sim, no velho estilo americano de hipocrisia. Sociedades onde a liberdade de exprassão é total, como a da Suécia e a da Holanda, só são possíveis porque se tratam de países menores. Os Estados Unidos descendem da sociedade inglesa, temos liberdade de imprensa, mas a hipocrisia impõem barreiras no que se refere a certos temas. É inevitável.
Wladimir Weltman
"Não Quer Ver, Não Olha"
O filme "O Povo Contra Larry Flynt", sobre a eterna batalha entre conservadorismo e liberdade de expressão nos Estados Unidos, me remete a uma frase, cuja autoria não me recordo, mas acho perfeita: "Um pouco de liberdade é como um pouco de gravidez. Não existe". Acho, se não me engano (pasmem!), que foi o escritor de best-sellers Sidney Shelton quem a proferiu. Mas vamos à censura ao chamado erotismo, que alguns confundem com a pornografia.
Aliás, com razão: quem sabe ao certo a fronteira entre os dois? Para mim, o belo e o excitante é o erótico e o vulgar ou feio - é pornográfico. Só. Quanto aos limites a se estabelecer sobre nú, erotismo, etc, sou curto e grosso: quem não quer ver, não olha, não compra.
Nunca paguei por produtos dos quais não gostasse. Não sou masoquista. Enfim, apenas deve-se estabelecer públicos e, no caso da televisão, horários: as revistas e jornais com nú devem ser impróprios para menores de 18 anos. Na TV, o erotismo deve ser exposto após as 22h. E há ainda o recurso de mudar de canal, desligar a TV... É tão simples. O resto é censura, repressão.
Ney Reis
Revista Ele e Ela
Editor-Executivo
Jornal O Dia
Rio de Janeiro/RJ
5º Feira
13 de Março de 1997
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