terça-feira, 6 de maio de 2008

Aconselhamento em CT

O Papel do Conselheiro na Recuperação e na Comunidade Terapêutica (Visão Religiosa). 1° Encontro de Comunidades Terapêuticas da Região Sudeste.- Preleção Tema: "Se você tratar um indivíduo como ele é, ele permanecerá assim, mas se você tratá-lo como se ele fosse o que deveria e poderia ser, ele se tornará o que deveria e poderia ser".
(Johann W. Von Goethe)
Introdução
Por longo tempo temos ouvindo acerca do papel do Conselheiro na Comunidade Terapêutica e na recuperação do Dependente Químico. Já presenciamos e particularmente vivenciamos situações de resistência à atuação desta "função". O Conselheiro em seu papel fundamental por vezes já foi confundido e confunde-se com o Pastor, Terapeuta, Monitor, Farmacêutico, Enfermeiro, Curandeiro etc. O Conselheiro consciente do seu papel sabe que embora seja um pouco de cada (e na maioria dos casos o é pelas circunstâncias), ele é simplesmente um Conselheiro em Dependência Química. Mas quem é o Conselheiro? Qual é seu objetivo na Comunidade Terapêutica e na recuperação do Dependente Químico? Qual é a sua participação na Equipe Terapêutica? É sobre isso que estaremos tratando nesta breve exposição sobre O Papel do Conselheiro no tratamento e na Comunidade Terapêutica. Quem é o Conselheiro? Quanto a este questionamento apresentaremos algumas definições das habilidades e características do Conselheiro e suas transformações ao longo do tempo: - Antigamente acreditava-se que este indivíduo deveria ser alguém com uma experiência no mundo das drogas, que a identificação provocada por esta experiência tornaria o aconselhamento viável. Também se pensava em alguém que por conhecer as "manhas" e artimanhas pudesse estar vigiando o "residente" e pronto para aplicação da correção. Imaginava-se que tal pessoa deveria ter um perfil de autoridade, liderança, pulso firme e incapaz de sentir compaixão ou permitir-se ser manipulado. - Estes conceitos foram ruindo com o tempo, hoje se pode perceber que o Conselheiro apesar da complexidade do trabalho precisa de algumas habilidades para desenvolver seu papel. Mas, a mais importante de todas as habilidades é a compaixão. 1)- Últimos Conceitos - Após a elaboração da Resolução N°.101 da ANVISA em 2001, resolução esta que estabelece e define o que são "os Serviços de Atenção a Pessoas com Transtornos Decorrentes ao Uso e Abuso de Substâncias Psicoativas", e também estabelece a "Equipe Mínima" para o trabalho. A ANVISA reconheceu a presença do que a resolução chamou de "Agente Comunitário" capacitado em Dependência Química em cursos aprovados por órgãos oficiais de educação. Este "Agente Comunitário" segundo o "Referencial para curso de educação profissional de nível técnico", será reconhecido como Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos. Segundo este mesmo, o Técnico é um Co-Terapeuta que, "em conjunto com outros profissionais e sob a orientação destes, mobiliza saberes, vivências e experiências". Este Co-Terapeuta deve desenvolver habilidades para atuar nas seguintes áreas: § Na Prevenção: - Participando de planejamentos e desenvolvimento programas preventivos. - Atuando em programas de redução de danos. - Identificando fatores que desencadeiam o uso indevido de drogas e propondo medidas e ações para prevenir o surgimento dos fatores desencadeantes. § Na Triagem; - Avaliar e encaminhar adequadamente cada indivíduo; - Orientar apropriadamente aos seus familiares; - Coletar, registrar e organizar informações; - Transmitir clara e precisamente com o domínio de vocabulário técnico-científico as informações coletadas. § Na Recuperação; - Saber conduzir reuniões contextualizadas em processos não psicoterápicos; - Interpretar prescrições e orientações terapêuticas; - Identificar sinais de co-morbidades; - Conhecer fundamentos de terapia ocupacional, laborterapia, recreação adequada no tratamento; - Conhecer modelos de intervenção em contextos de interação social; - Modelos de abordagem sociocultural e de reinserção social. - Identificar quadros de desintoxicação e síndrome de abstinência, saber aplicar recursos de primeiros socorros. § No Pós-Tratamento; - Saber desenvolver planejamento pessoal; - Monitorar com eficácia e avaliar os resultados; - Comunicar-se e relacionar-se com eficiência e cooperar com a equipe multidisciplinar. Logo, podemos constatar que ao longo dos anos a evolução da conceituação básica das habilidades do Conselheiro em Dependência Química, seu perfil e características vêm sofrendo fortes mudanças e até intervenção governamental. 2)- Do Perfil Atual - O Conselheiro deve ser tratável, social e acessível. Deve mostrar interesse sincero pelos problemas das pessoas tratando-as como tais e não como "um caso". Deve também reunir características pessoais como a compreensão, relevância, flexibilidade e sensibilidade. Ter uma vida exemplar digna e íntegra, destacar-se pelo equilíbrio emocional, sobriedade e discrição. Estar motivado para a vida, otimista em tudo o que faz. Deve buscar conhecimento técnico da Dependência Química e Espiritual, saber distinguir o uso de ambos os conhecimentos usá-los apropriadamente um em favor do outro ao invés de confrontá-los. Conhece o poder transformador do amor do Poder Superior (como cada um "O" concebe), mas também não ignora e nem subestima a ação das SPAs. Deve entender-se a si próprio, ter plena consciência de suas limitações, imperfeições e de sua condição humana. Se não compreender a si mesmo dificilmente entenderá os outros. Deve dominar seus próprios desejos e saber lidar com os seus sentimentos. Por fim deve estar disponível ao trabalho. Qualquer trabalho que seja, o trabalhador só é bem sucedido a partir da dedicação e doação. 3)- O Papel do Conselheiro - Para o pesquisador W. Miller a forma como o terapeuta (Conselheiro) interage com o paciente pode ser mais importante do que a abordagem ou a escola de pensamento com a qual o terapeuta opera. Segundo Miller, terapeutas que trabalham nos mesmos settings e que oferecem as mesmas abordagens terapêuticas apresentam enormes diferenças em seus índices de resultados. O doutor Miller acredita que o fato dos "clientes" encontrar-se "desmotivados" ou "resistentes" se explica pelo uso de estratégias inadequadas para o estado de mudança. O terapeuta (Conselheiro) eficaz segundo o Dr W. Miller deve desenvolver estratégias para motivar o "cliente" a mudança. Estas estratégias consistem em: a) Oferecer ORIENTAÇÃO - A orientação clara estimula a mudança. Quando prestamos Orientações baseadas em dados estatísticos e científicos, estamos deixando claro para nosso "cliente" que tais informações não possuem cunho persuasivo mas técnico, real, o objetivo não é convencê-lo mas informá-lo dos riscos. Conselhos por si só não produzem efeitos suficientes de motivação a mudança. Por isso é necessário que tenhamos a informação correta, sem fantasiá-la ou exagerá-la, mas informá-la usando fontes de confiança e especializada. b) Remover BARREIRAS - Outra abordagem importante é identificar e remover o máximo de barreiras que possam estar impedindo a motivação à mudança. Existem situações que podem servir de impedimento ao tratamento adequado. Algumas de origem do próprio serviço como distancia, acomodação inadequada, abordagem inadequada, custos altos, etc. Outras barreiras podem ter origem no "cliente" como resistência ao tratamento, inibição e introversão, falta de identificação, contexto cultural, conficionalismo, etc. O papel do Conselheiro nesse caso é auxiliar o "cliente" a identificar tais barreiras e superá-las, procurando ações que venham reformular o pensamento quanto à barreira (T.R.E. - Albert Ellis). c) Proporcionar ESCOLHAS - Qualquer cidadão (ã) que sinta sua liberdade ameaçada apresentará resistências; as pessoas não gostam que lhe digam o que fazer. Um dos maiores problemas nas Comunidades Terapêuticas é justamente a não condição de se fazer escolhas, ou seja, a falta de alternativas que por diversos fatores seja falta de recursos ou a visão fechada para apenas uma forma de ação, acaba impondo ao "cliente" o tratamento sem dá-lo a chance de concordar ou não com o método. Proporcionar escolhas ao "cliente" com abordagens alternativas pode diminuir a resistência e melhorar a motivação do mesmo no comprometimento com o programa. d) Praticar EMPATIA - Ao contrário do que se pensa, a Empatia não é uma característica ou tendência de identificação com os outros, mas uma habilidade a ser aprendida e desenvolvida para que haja a compreensão dos significados de outra pessoa pelo uso da escuta reflexiva, quer tenha-se ou não experiências semelhantes. O estilo de aconselhamento empático requererá do Conselheiro muita atenção em cada informação do "cliente", além da reflexão sobre tais informações. e) Proporcionar FEEDBACK - Quando se está perdido, dificilmente pode-se planejar como chegar a algum lugar. Como dizia Marshall McLuhan. "Eu não sei quem descobriu a água, mas tenho certeza de que não foram os peixes". Quando se está envolvido demais em algum problema, não se pode contemplar a saída; nessas horas o Conselheiro deve proporcionar Feedback ao "cliente". Esse Feedback pode ocorrer de diversas formas; desde simples expressões de preocupação aos check-ups, ou manifestações de preocupação por parte do grupo, sugestões claras sobre possibilidades de reverter o quadro e eliciar afirmações automotivacionais. Fazer com que o "cliente" perceba em que estado se encontra suas conseqüências riscos. f) Esclarecer OBJETIVOS - O feedback por si só pode não trazer qualquer resultado de mudança se faltar no individuo objetivos ou padrões claros. Esclarecê-los quanto aos objetivos e padrões é tarefa do Conselheiro. Descobriu-se que ajudar pessoas a estabelecerem metas definidas facilita na mudança, desde que tais metas não sejam consideradas pelo "cliente" como utópicas. É importante que o "cliente" perceba que o programa o qual se ingressou é claro em relação a sua metodologia, filosofia e prática. 4) Confrontando Com A Graça - O Conselheiro em Dependência Química deve buscar compreensão de Deus para aconselhar com GRAÇA seus aconselhados. É comum fazermos o papel dos acusadores, mas não é esse o papel do conselheiro, mas sim o papel do representante de Deus. Nossa tarefa não é acusar; podemos até apontar o erro como vimos mais acima no "proporcionar Feedback", mas não acusar, condenar fazê-los pagar pelo erro, esse não é o papel do conselheiro. Como Conselheiros não podemos achar que somos representantes da justiça Divina pelo contrário somos representantes do amor e da misericórdia de Deus. Confrontar com Graça é o que há de mais belo, foi dessa forma que Jesus confrontou Zaqueu, Pedro, a Samaritana, Madalena e outros. A Graça é um poderoso "instrumento terapêutico" cuja eficácia encontra-se em diversas passagens bíblicas e na história de homens e mulheres de Deus que compreenderam a mensagem de Jesus. Mudança não se impõe a ninguém, se propõe. A proposta de Deus a nós, é que tenhamos vida em abundancia e esta "vida" passa pela busca individual de cada um de nós. Alguns precisam de ajuda para realizar tal busca, cabe a nós mostrar o caminho, como dizia John Stott, "Evangelizar é um mendigo dizendo ao outro onde encontrou o pão". (5) Bibliografia: - Hoff, Paul. "O pastor como conselheiro". Editora Vida. - Naisbitt, John. "High tech, high, touch". Editora Cultrix. - Miller, William R. "Entrevista Motivacional". Artmed. 2001. - "Referencial para curso de educação profissional de nível técnico. Curso, Técnico em Reabilitação de Dependentes Químicos". Senad. - "Bíblia de Estudo", Genebra. - "Preleção" Jonatas Carlos de Carvalho", Conselheiro em D.Q., Coordenador da Comunidade Terapêutica. S.O.S. VIDA, Cabo-Frio.
24 de maio de 2003

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